Isabel Stilwell

 

 

 

Se nos abrissem a cabeca, como quem abre um ovo, em vez de sair gema e clara, caía lá de dentro um quadro do João Vaz de Carvalho.

Está ali na tela, tudo o que armazenamos no cérebro que não é mais do que um apêndice sofisticado para guardar o que não nos cabe nos bolsos. Piões, um sol, baratas, aquela árvore do fundo do jardim da casa onde nascemos, os filhos, ou os pais, o aspirador, o avião, a cama, a almofada, o chefe e o martelo do chefe, aqueles botões de punho e dezenas de outras coisas que se misturam, sem que uma hierarquia racional as obrigue a respeitar o espaco e o tamanho que têm, de facto, na vida real.

Mas só o João é que tem coragem de retratar esses mundo tal como é. De chocar todos aqueles que morreriam de pânico se descobrissem que guardaram a avó mais pequenina do que aquela galinha, a quem davam milho a caminho da escola. Ou que o cão ocupa completamente a sua massa cinzenta, deixando apenas um espacinho para a Lua- e logo para a Lua, porque não para o Sol?

Pois é. Podemos promover o João a nossa psicanalista colectivo.

Para frente de cada quadro, sorria, ria abertamente, ou pestaneje perturbado. Repare como reage às cores, quais são os pormenores que fixa primeiro. Vai ver como, entre todos, encontra o seu......

Isabel Stilwell