José Paulo Leitão

 

Testemunho que o João Vaz de Carvalho vive num quintal murado ao qual se acede por um portão verde que nos quadros, por vezes, é vermelho.

O João e todos os seres animados e os outros, aparentemente inanimados, movimentam-se entre o quintal e a rua e vice-versa, ora escorregando ora trepando pelo muro.

Estou convicto que o muro só existe para lhes oferecer o prazer de o transporem, pois nunca utilizam o portão.

Há assim um movimento irrequieto e constante entre o quintal e a rua de todos aqueles seres rebeldes, o que inclui, naturalmente, o João.

Mas também não se ficam pela rua pois dobram a esquina e desaparecem, às vezes em bandos.

Saltando de quadro para quadro,  partem  à descoberta : descobrem , descobrem-se, brincam e cansam-se de tanto brincar.

Em qualquer dos casos experimentam a vida antes de a julgarem e não são seres absurdos, nem fruto da imaginação, pois existem mesmo, é preciso é olhar e vê-los.

E a verdade é que se não existissem não podiam projectar as suas próprias sombras no verde , no azul, no vermelho, no castanho e em todas as outras cores de que são feitos os quadros.

 

José Paulo Leitão

 

Abril 2007